sexta-feira, 18 de março de 2016

Para a história da minha "tarimba" na Administração
- Justino Mendes de Almeida e Bairrão Oleiro

Nesta era da informação instantânea, omnipresente e globalmente acessível, muita coisa que nos deveria interessar, vai afinal escapando por entre a brutal cacofonia dos media. Vem isto a propósito de uma pequena nota que o José d'Encarnação acaba de divulgar no ARCHPORT, por ocasião da edição de um volume de homenagem a Justino Mendes de Almeida. Julgando tratar-se de uma homenagem "em vida", rapidamente me dei conta que afinal, o homenageado havia falecido em 2012. Uma busca instantânea na INTERNET permitiu confirmar um evento que me passou totalmente ao lado (notícia do Expresso) e que não devia... É que Justino Mendes de Almeida (1924-2012), a par de João Manuel Bairrão Oleiro (1923-2000) (a quem na altura do seu desaparecimento tive oportunidade de prestar tributo, colaborando inclusive no volume de homenagem então editado), tiveram ambos e cada um à sua maneira, um papel crucial na minha carreira de "alto"(?) funcionário público. 

Por razões meramente circunstanciais, algumas das quais tenho dado testemunho neste blog, com menos de 30 anos e por delegação do Francisco Alves (Director do Museu Nacional de Arqueologia e do Departamento de Arqueologia do IPPC), sem qualquer experiencia de administração (fora professor liceal até então), encontrei-me subitamente na situação de responsável máximo, ao nível executivo, da Arqueologia portuguesa (1981-88), coincidindo ainda por cima tal situação com uma época de franco desenvolvimento da disciplina, a vários níveis. Felizmente, tive a sorte de ter tido como sub-directores gerais (ou vice-presidentes, conforme os casos), precisamente Justino Mendes de Almeida e João Bairrão Oleiro, duas "velhas raposas" da Administração Pública, ambos com raízes na Arqueologia e na Investigação, mas que, afastados das carreiras académicas por razões diversas, haviam enveredado pela Administração, nas áreas do "ensino e belas artes", a antiga tutela dos Museus e Património, pré 25 de Abril. Em longas sessões de despacho, dos mais variados assuntos, dos mais correntes aos extraordinários, tive assim oportunidade de tirar partido da sua vasta experiencia e saber, estabelecendo assim a indispensável "ponte" inter-geracional. Afinal um meio indispensável para garantir a necessária continuidade de práticas e conhecimentos que deve estar subjacente ao processo normal de desenvolvimento de qualquer organização. Ao contrário do que, infelizmente, acontece hoje na generalidade da Administração Pública em que vemos todos os dias excelentes funcionários a aposentarem-se sem que tenham tido a oportunidade de transmitir a uma geração mais jovem (totalmente arredada da Administração) os seus conhecimentos e experiências.

Sobre Bairrão Oleiro, tive oportunidade de ainda em vida do mesmo, recordar um episódio central na sua carreira, através da publicação de um texto (1 de Fevereiro de 1996) sobre factos que acabariam por marcar toda a sua carreira (para o bem e para o mal) e relacionados com a destruição do "acampamento romano de Antanhol". Esse mesmo texto seria reeditado na Revista Almadan, dedicada à arqueologia portuguesa do Século XX (II Série, nº8, 1999, pp.133-137). Aproveito agora o ensejo para o divulgar  na sua versão original, a partir do facsimile da página do Diário de Notícias de há 2 décadas.  

(Adenda de 4_01_2018:

Em processo de arrumação de papéis na sequencia da confirmação da minha aposentação verificada a 30 de Dezembro de 2017, encontrei uma simpática carta de agradecimento do próprio Bairrão Oleiro datada de 6 de Fevereiro de 1996. Reagindo à publicação do meu artigo, Oleiro acrescenta alguns dados ao assunto "Antanhol"... )



Quanto a Justino Mendes de Almeida, gostaria de aqui referir uma história que circulava pelos corredores do Palácio da Ajuda e que acabei por não ver confirmada nos documentos biográficos disponíveis na NET, incluindo uma saborosa entrevista ver aqui que concedeu ao semanário Mirante poucos anos antes do seu desaparecimento. Constava que Justino Mendes de Almeida teria sido um dos mais brilhantes alunos do seu tempo (estudos clássicos) em Coimbra e que por essa razão lhe estava predestinada uma carreira académica brilhante. No entanto, a sua excessiva proximidade com o regime e particularmente com Oliveira Salazar (dizia-se que era seu afilhado?) ter-lhe-ia sido fatal nas provas de Doutoramento, por razões políticas (?) ou por mera inveja. Sem coragem para chumbarem o "protegido" do regime, os catedráticos de Coimbra, deram-lhe uma nota que lhe vedava o acesso à Cátedra, obrigando-o a abandonar a Academia. Esta possível "lenda palaciana" concluía-se introduzindo um facto semi-verdadeiro. Salazar, em resposta (?), nomearia Justino Mendes de Almeida como Subsecretário de Estado, com superintendência sobre a Universidade que o afastara... De facto Justino Mendes de Almeida numa altura em que era Presidente da Junta de Investigação do Ultramar desde 1962, foi nomeado  Subsecretário de Estado da Administração Escolar em 1968, talvez ainda por Salazar antes da queda da cadeira (Setembro 1968), cargo que ocuparia até 1971. Mas, mais que provavelmente, esse facto nada terá a ver com a sua frustrada carreira académica, que aliás retomaria no pós-25 de Abril no ensino superior privado, onde seria Reitor da Universidade Autónoma de Lisboa.








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