sexta-feira, 5 de janeiro de 2018


A ARQUEOLOGIA NA FESTA DO AVANTE de 1980



Há cinco anos atrás (2012) alguém publicou esta foto "histórica" no "Facebook", eventualmente o próprio Vítor Serrão, um dos retratados... 


Reconhecem-se, da esquerda para a direita, a Teresa Marques, (hoje já aposentada, após longa carreira no IPPC/IPAR/IGESPAR) a Silvana Macedo (actual directora do Museu dos Coches) o já falecido Dagoberto Markl, (então conservador no Museu Nacional de Arte Antiga), uma colega cujo nome não retenho e, por fim o Vítor Serrão e eu próprio (ainda com algum cabelo, nos meus 28 anos...). 

Pouca informação conservo das circunstancias em que a foto foi obtida, nem sequer sei quem é o seu autor. Quanto ao evento em si, julgo ter-se tratado de um "debate" organizado pela "célula do património cultural do PCP" no contexto da própria Festa (à época ainda no Alto da Ajuda) tendo como tema de discussão o sugestivo tema " A arte portuguesa e a luta de classes entre os Séc. XIV e o Século XIX". Reproduzo um comentário deixado por José Manuel Vargas no Facebook a quando da divulgação da imagem em 2012 e que ajudará a melhor enquadrar a iniciativa:

A Festa do Avante de 1980 teve o Património Cultural como tema dominante nos vários pavilhões, mesmo a nível concelhio. Por ex. o de Sintra, com contributos do Vítor Serrão e as fotografias do saudoso camarada Joaquim Felício Loureiro."

Entretanto, (e é esse o principal motivo que me levou a "repescar" esta foto), nas arrumações arquivísticas a que me tenho dedicado nos últimos tempos, encontrei uma fotocópia de parte do "Programa" dessa mesma Festa de 1980 (pg.s 43 e 45) cujo texto ajuda a enquadrar aquela imagem. Embora o conteúdo seja demasiado genérico, depreende-se da respectiva leitura que nesse ano de 1980 se apresentava no Pavilhão Central da Festa, uma exposição de "Arqueologia e Património Arqueológico", incluindo uma mostra de materiais arqueológicos originais. Desconheço a quem se deve a respectiva organização nem retenho grande memória da mesma... De entre os colegas que me eram então mais próximos julgo que terá colaborado na iniciativa o João Ludgero, mas penso que à frente da organização estaria o já desaparecido Eng. Gustavo Marques e eventualmente, o José Morais Arnaud, actual presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Mas anos mais tarde, viria a ter participação activa no processo de reintegração museológica de uma extraordinária peça arqueológica que teve a sua primeira e única apresentação pública nessa exposição de 1980. Tratava-se da estátua em bronze de grande qualidade artística de um jovem nu ("Apolo"?) que havia sido descoberta pelos trabalhadores da cooperativa de São Manços em 1976, em plena época da reforma agrária (e que eu já havia referido neste blog: http://pedrastalhas.blogspot.pt/2017/10/visita-aos-almendres-recordando-reforma.html ). Finda a sua curta presença na Festa do Avante, a valiosa estátua recolheu à sede da Cooperativa, onde era guardada quase religiosamente (chamavam-lhe localmente o "Santo de São Manços"). Apenas uma década mais tarde e após um delicado processo negocial que eu próprio conduzi enquanto responsável pelo Serviço Regional de Arqueologia do Sul com os cooperantes que sobravam da extinta cooperativa, estes finalmente acordaram oferecer a estátua ao Museu de Évora, onde hoje se encontra exposta em posição de destaque. 

A estatueta de bronze de São Manços, já restaurada no laboratório de Museu de Conimbriga e hoje exposta no Museu de Évora (aqui em foto de Eduardo Estéllez obtida na INTERNET) e que foi peça central na exposição temática da Festa do Avante de 1980

A notícia da descoberta do "Apolo" de São Manços, nas palavras de Túlio Espanca, no Diário do Sul de 4 de Setembro de 1976




Para memória futura, aqui deixo o facsimil parcial do "programa" da Festa do Avante de 1980:




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